Durante uma cerimônia realizada nesta sexta-feira (27) no estado do Tocantins, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a tecer críticas ao seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), e a programas criados na gestão passada, como a Casa Verde e Amarela e a Carteira de Trabalho Verde e Amarela. Visivelmente incomodado com o legado do ex-presidente, Lula disparou: “Recebe Pix pra fazer vagabundagem”.
A declaração foi feita durante a entrega de títulos de regularização fundiária, evento que já vem se tornando repetitivo no roteiro do governo, com Lula fazendo questão de lembrar – mais uma vez – do tempo gasto nas solenidades. “Isso aqui já tá virando missa longa”, chegou a comentar em tom bem-humorado, mas com aquele toque de bronca.
Na sequência, o petista tentou desconstruir os rótulos que costumam colar em sua imagem. “Não sou o presidente dos pobres, nem das mulheres. Eu sou vocês na Presidência da República”, afirmou, tentando se aproximar do público presente. Mesmo assim, enfrenta resistência em várias regiões, inclusive entre eleitores que já o apoiaram em mandatos anteriores.
No discurso, Lula defendeu a transferência de posse de terrenos e imóveis da União para os cidadãos. “Pra que o governo vai querer ficar com prédio e terreno? Isso tem que ser do povo”, disse ele. E foi além: chamou o ato de regularização de “gesto de civilidade”, um contraponto, segundo ele, ao que teria sido o mandato de Bolsonaro. “Esse país perdeu a civilidade nos últimos anos. Foi um governo que mentiu durante quatro anos seguidos”, reclamou.
Num tom mais inflamado, Lula provocou os que ainda defendem o ex-presidente. “Desafio qualquer um a me mostrar uma casa construída por ele, uma escola, uma estrada. Qualquer coisa.”, cutucou. E não parou por aí: acusou Bolsonaro de ter torrado R$ 300 bilhões em ano eleitoral na tentativa – frustrada – de se reeleger.
Nos últimos tempos, Lula tem tentado mudar o discurso em relação aos trabalhadores informais. Coisa que não era muito comum em governos anteriores dele. Agora, fala com mais simpatia sobre os que preferem não ter carteira assinada. “Tem trabalhador que não quer saber de CLT, quer empreender, fazer o corre dele. E o governo tem que apoiar isso”, disse, criticando o marketing dos projetos “coloridos” do governo anterior. “Ninguém liga pra cor da carteira. O que querem é oportunidade de verdade”.
O presidente também mandou um recado ao agronegócio, setor com o qual tem uma relação meio conturbada. Prometeu crédito rural, mesmo para quem vota em Bolsonaro. “Não vou perguntar em quem o fazendeiro votou. Não me importa. Se ele tá produzindo, merece apoio”, declarou. E aproveitou pra prometer o “terceiro maior Plano Safra da história”, lembrando que já bateu recorde em 2023 e prometendo repetir a dose em 2025 – duas vezes, inclusive, confundindo o ano.
Apesar das falas otimistas, Lula enfrenta obstáculos concretos. Sua terceira gestão está afundada numa crise fiscal persistente. Enquanto fala em crédito e incentivo, o governo se desdobra em Brasília pra tentar tapar buracos nas contas, seja aumentando IOF ou buscando novos meios de arrecadação. O próprio governo criou a meta fiscal que agora tenta atingir — sem sucesso até o momento.
No fim das contas, Lula mistura carisma e crítica em um discurso que tenta agradar gregos e troianos. Mas o desafio de equilibrar promessas, orçamento apertado e cenário político polarizado está longe de ser simples. E o relógio político, como o da cerimônia que tanto reclamou, não para de correr.