O barulho dos rojões e fogos de artifício é uma tradição de Ano-Novo, mas, para quem convive com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), essa celebração pode se transformar em um grande desafio. Muitas pessoas dentro do espectro apresentam crises sensoriais devido à intensidade dos estímulos sonoros e visuais típicos dessa época.
Por que o barulho incomoda tanto?
Pessoas com TEA frequentemente possuem hipersensibilidade sensorial, ou seja, seus sentidos reagem de forma amplificada a estímulos do ambiente. Esse traço é comum e muitas vezes fundamental para o diagnóstico. Sons que parecem normais para a maioria, como uma buzina de carro ou o latido de um cachorro, podem ser esmagadores para quem vive com essa condição.
No caso específico do barulho dos fogos, a audição dessas pessoas pode funcionar de maneira diferente: é como se todos os sons ao redor fossem percebidos ao mesmo tempo, sem qualquer filtro. Isso gera uma sobrecarga sensorial, que pode resultar em pânico, irritação ou comportamento desorganizado.
Não é só o som: outros sentidos também são afetados
A hipersensibilidade no TEA não se limita à audição. Outros sentidos também podem reagir de forma exacerbada:
• Tato: Texturas podem ser desagradáveis ou até assustadoras, como andar descalço na grama ou vestir roupas específicas.
• Paladar: Há casos de seletividade alimentar, onde a pessoa prefere alimentos pastosos ou secos, por exemplo.
• Visão: Luzes intensas e piscantes, comuns em festas, podem ser extremamente desconfortáveis e desencadear reações negativas.
Essas sobrecargas podem levar a crises de desregulação emocional, especialmente porque pessoas com TEA têm mais dificuldade para entender contextos ou antecipar o que vai acontecer.
Cada caso é único
Nem todas as pessoas com TEA reagem da mesma forma. Aqueles com nível 1 de suporte, que têm uma cognição social mais desenvolvida, conseguem se adaptar melhor a esses estímulos. Já indivíduos com nível 2 ou 3, que requerem mais suporte, podem enfrentar maiores dificuldades para contextualizar situações e lidar com mudanças inesperadas.
Como ajudar durante as festas de fim de ano?
1. Explique o que vai acontecer
Crie uma sensação de previsibilidade. Para crianças, os pais podem explicar o que são os fogos, o motivo do barulho e que ele vai acabar em alguns minutos. Detalhar o cronograma da noite, como a contagem regressiva e os abraços após a virada, ajuda a reduzir a ansiedade.
2. Reduza os estímulos sensoriais
Fones de ouvido que abafam o som são aliados valiosos, mas precisam ser introduzidos com antecedência, já que algumas crianças podem resistir a usá-los. Outra estratégia é distrair a criança com algo que ela goste, como um brinquedo favorito, uma música ou um vídeo.
3. Crie um espaço seguro
Se possível, escolha um local afastado do barulho para passar a virada. Caso isso não seja viável, monte um cantinho tranquilo dentro de casa onde a criança possa se sentir confortável.
4. Acolha as reações
Observe como a pessoa reagiu, valide seus sentimentos e explique o que aconteceu. Ensine também os demais participantes da celebração a respeitarem as necessidades específicas dela.
5. Busque ajuda profissional
Terapeutas ocupacionais podem trabalhar a dessensibilização sensorial em sessões específicas, ajudando a pessoa a lidar melhor com estímulos intensos. Ainda assim, é importante lembrar que essas características fazem parte do indivíduo, e a adaptação do ambiente pode ser tão importante quanto o tratamento.
Uma abordagem mais inclusiva
Enquanto algumas famílias optam por alternativas como fogos silenciosos, outras investem em adaptar suas celebrações às necessidades de quem tem TEA. O importante é lembrar que cada gesto de compreensão faz a diferença. No fim, o objetivo de qualquer festa é criar memórias positivas para todos, respeitando os limites e o bem-estar de cada um.