Nesta segunda-feira (9/6), o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) não escondeu a satisfação ao comentar a atuação do ministro Luiz Fux (STF) durante o depoimento do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. O interrogatório, que aconteceu no âmbito da ação penal sobre a suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, foi conduzido por Alexandre de Moraes e pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
O momento que mais chamou a atenção – pelo menos aos olhos de Eduardo – foi uma pergunta feita por Fux, que de forma direta quis saber: “Quem tinha diretamente relação com as pessoas que estavam nos quartéis?”
Cid, que vem sendo peça chave nas investigações, respondeu: “O miolo da Presidência nunca manteve contato com nenhuma liderança, nenhum financiador. A gente sabia o que estava acontecendo, sim, até pelas redes sociais. Mas o núcleo interno não tinha contato com ninguém”.
A fala, para aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, vem sendo vista como uma espécie de escudo contra a narrativa de que houve coordenação direta entre o Planalto e os atos antidemocráticos pós-eleição. E foi exatamente essa impressão que motivou Eduardo Bolsonaro a comentar o assunto de forma entusiasmada nas redes: “Fux desmontou o castelo de areia com duas perguntas”, escreveu ele.
Mas não parou por aí.
Outra intervenção do ministro Fux que repercutiu bastante foi sobre as minutas de documentos que circularam na época, sugerindo decretos de estado de defesa ou até estado de sítio – que poderiam, em tese, ser usados para barrar a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. A pergunta foi clara: esses documentos chegaram a ser assinados por alguma autoridade?
A resposta de Mauro Cid foi direta: “Não, senhor. Em nenhum momento foi assinado. Inclusive, era a grande preocupação do comandante do Exército que o presidente assinasse alguma coisa sem consultar e sem falar com ele antes. De certa forma, de todas essas pessoas, ele [general Freire Gomes] era a voz mais lúcida”.
Essa fala, que coloca o então comandante do Exército como figura sensata no meio da tensão institucional, também foi bem recebida entre os apoiadores de Bolsonaro. Eduardo, novamente, não perdeu tempo para usar a fala como argumento de defesa pública. Em sua visão, esse trecho também contribui para enfraquecer as acusações de tentativa de ruptura democrática.
Apesar disso, o depoimento de Mauro Cid não foi isento de polêmicas. Ele confirmou que o entorno do presidente tinha conhecimento dos protestos e movimentos nos quartéis, mas insiste que não houve participação direta. Essa linha tênue entre saber e participar é o que está no centro do julgamento.
Enquanto o STF segue com o processo, figuras políticas de diferentes espectros acompanham cada detalhe como se fosse um jogo de xadrez. Os bolsonaristas veem no depoimento uma chance de absolvição moral do ex-presidente, enquanto opositores reforçam que o simples conhecimento dos planos já seria suficiente para caracterizar omissão — ou até conivência.
É cedo pra saber qual lado vai prevalecer juridicamente, mas politicamente, cada frase vira munição.
Por ora, o que se sabe é que, mesmo fora do Congresso, Eduardo Bolsonaro segue ativo na arena pública e atento a qualquer sinal que possa reverter o desgaste da imagem de seu pai — inclusive comemorando quando um ministro do Supremo faz uma pergunta que parece jogar a favor do clã Bolsonaro.
E a novela, como se sabe, ainda tá longe do último capítulo.