Mulher acorda “falando italiano” após sofrer um AVC, mesmo nunca tendo visitado o país ou estudado o idioma

Uma condição neurológica extremamente rara mudou completamente a vida de Althia Bryden, uma aposentada de 58 anos que vive em Londres. Após sofrer um derrame, Althia passou por uma transformação inesperada: começou a falar com um sotaque italiano, mesmo nunca tendo visitado a Itália. Esse caso surpreendente é um exemplo raro da chamada síndrome do sotaque estrangeiro.

O episódio que alterou a vida de Althia aconteceu em 4 de maio de 2024. O derrame foi causado por uma anomalia na artéria carótida conhecida como carotid web. Nos três meses seguintes, ela enfrentou dificuldades graves: perdeu a capacidade de falar e ficou sem sensibilidade na parte superior direita do corpo. Foi somente após uma cirurgia em agosto, para corrigir o problema na artéria, que sua voz voltou — mas de uma forma que ninguém esperava.

A volta da voz

“De repente, eu comecei a falar,” lembra Althia em entrevista ao PA Real Life. “A enfermeira olhou para mim, completamente chocada, e eu mesma me perguntei: ‘Quem está falando?’” A surpresa não foi só dela. A equipe médica ficou intrigada com o novo padrão de fala, que imitava perfeitamente o sotaque italiano. Eles perguntaram se ela já tinha estudado o idioma ou passado tempo na Itália. A resposta foi não.

Mais do que o sotaque, Althia começou a incorporar palavras italianas em suas conversas diárias. Termos como “mamma mia”, “bambino” e “si” tornaram-se parte do seu vocabulário, acompanhados pelos gestos expressivos típicos da cultura italiana. “Eu nunca tinha falado assim antes,” comenta. “É como se minha personalidade inteira tivesse mudado.”

Um caso raro que intriga especialistas

A síndrome do sotaque estrangeiro é tão rara que muitos médicos passam a carreira inteira sem encontrar um caso. Para os profissionais que acompanharam Althia, ela se tornou uma espécie de “maravilha médica”. “Nenhum dos médicos, terapeutas ou enfermeiros com quem falei tinha experiência com essa condição,” ela relata.

A condição ocorre em casos de danos cerebrais, como os causados por derrames, e pode impactar profundamente a identidade da pessoa. No caso de Althia, isso se refletiu até na sua risada. “Minha risada não é mais minha,” desabafa. “Parece que outra pessoa está rindo no meu lugar. Eu não sou eu.”

Impactos emocionais e familiares

Além do sotaque inesperado, Althia foi diagnosticada com afasia, uma condição que prejudica a linguagem e a fala. A soma dessas mudanças deixou marcas profundas na sua vida emocional e social. “Foi aterrorizante. Meu cérebro não conseguia processar o que estava acontecendo,” diz ela.

Seu marido, Winston, de 63 anos, assumiu o papel de cuidador em tempo integral, ajudando-a a lidar com as mudanças radicais no dia a dia. “Eu tenho dificuldades para aceitar que essa voz é minha,” confessa Althia. “As pessoas não estão conhecendo a verdadeira Althia, porque eu mesma não sei quem sou agora.”

Reflexões sobre identidade

Casos como o de Althia chamam atenção para como eventos neurológicos podem afetar não só a saúde física, mas também a forma como uma pessoa se percebe e é percebida pelos outros. O NHS (Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido) reconhece a síndrome do sotaque estrangeiro como uma consequência rara de danos cerebrais, mas ainda há muito a ser estudado sobre o impacto emocional e psicológico da condição.

Uma jornada de adaptação

Enquanto aguarda um diagnóstico formal da síndrome, Althia continua aprendendo a conviver com sua nova realidade. Embora ainda enfrente desafios para reconciliar sua identidade com sua voz transformada, ela busca força no apoio da família e na curiosidade que seu caso desperta no meio médico.

Esse episódio é um lembrete poderoso de como o cérebro humano é complexo e, ao mesmo tempo, vulnerável. Para Althia, a jornada é sobre encontrar formas de se redescobrir e se adaptar, enquanto para nós, é uma oportunidade de entender melhor os mistérios da mente.



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