O que aconteceu com o bebê de 9 meses de um dos “experimentos mais antiéticos de todos os tempos”?

Você já ouviu falar do experimento que tentou transformar um bebê em um “cão de Pavlov” humano? Pois é, essa história é uma das mais polêmicas da psicologia e continua gerando discussões até hoje.

Tudo começou no início do século XX, quando o psicólogo John B. Watson e sua assistente Rosalie Rayner resolveram testar uma teoria ousada: seria possível ensinar uma pessoa a sentir medo? Eles acreditavam que sim e escolheram um bebê de apenas nove meses para provar isso. O garoto ficou conhecido como “Pequeno Albert”, mas sua identidade real permaneceu um mistério por décadas.

A ideia do experimento era simples — e perturbadora. No início, Albert foi exposto a diferentes estímulos: um rato branco, um coelho, um macaco e até folhas de jornal pegando fogo. Ele não demonstrava qualquer receio. Tudo era novo e curioso para ele, como acontece com qualquer bebê. Mas Watson queria ver se conseguia criar um medo artificialmente.

Foi aí que começou a parte controversa. Sempre que Albert via o rato branco, Watson fazia um barulho altíssimo, batendo um martelo contra uma barra de metal. O som era assustador, e o bebê chorava imediatamente. Isso se repetiu várias vezes, até que Albert começou a associar o rato ao medo. Em pouco tempo, bastava ver o animal para entrar em pânico. E o efeito não parou por aí: ele passou a ter medo de qualquer coisa parecida, como o coelho e até um casaco de pele. Esse fenômeno é conhecido como “generalização de estímulos” e ainda é estudado na psicologia.

Mas e depois? O que aconteceu com Albert? A parte mais chocante da história é que Watson simplesmente interrompeu o experimento sem se preocupar em “desfazer” o medo que havia criado. A criança ficou com essa fobia induzida sem nenhum acompanhamento posterior.

Décadas depois, pesquisadores tentaram descobrir a verdadeira identidade de Albert e o que aconteceu com ele. Em 2009, o psicólogo Hall Beck anunciou que havia encontrado a resposta: segundo ele, Albert era na verdade Douglas Merritte, filho de uma funcionária do hospital onde o experimento foi realizado. Infelizmente, a história teve um desfecho triste. Douglas morreu aos seis anos devido a hidrocefalia, uma condição que afeta o cérebro. Isso levantou outra questão: será que Watson sabia que o bebê tinha problemas de saúde quando fez o experimento? Se sim, isso tornaria o estudo ainda mais antiético.

Mas a história não acabou aí. Em 2012, outra equipe de pesquisadores apresentou uma teoria diferente. Eles afirmaram que o verdadeiro Albert poderia ser William Albert Barger, outro bebê nascido na mesma época e no mesmo hospital. Ao contrário de Douglas, William viveu até os 87 anos e, curiosamente, tinha uma aversão inexplicável a animais — o que combinava com os efeitos do experimento.

E então, quem era o verdadeiro Pequeno Albert? O debate continua. Alguns especialistas argumentam que os registros médicos indicam que era mesmo Douglas, enquanto outros defendem que William é o candidato mais plausível.

Independentemente da identidade do bebê, o experimento continua sendo um dos episódios mais controversos da psicologia. Ele expôs a total falta de regulamentação para estudos científicos na época. Hoje, seria impossível realizar algo assim, já que existem protocolos rigorosos para proteger participantes de pesquisas. Mas, no início do século XX, os limites éticos eram bem mais flexíveis.

O legado do experimento de Watson vai além da polêmica. Ele ajudou a consolidar a teoria do condicionamento clássico, que mais tarde influenciou a psicologia comportamental e até a publicidade. Grandes empresas ainda utilizam princípios parecidos para criar associações emocionais em seus anúncios — algo que Watson, aliás, fez depois de sair da academia. Ele trabalhou em publicidade e aplicou seus conhecimentos para ajudar marcas a associar produtos a emoções específicas, aumentando suas vendas.

Se tem algo que essa história ensina, é que a ciência sempre precisa andar de mãos dadas com a ética. O caso do Pequeno Albert nos lembra de um tempo em que os pesquisadores testavam suas hipóteses sem se preocupar muito com as consequências humanas. Felizmente, os tempos mudaram. Mas a pergunta continua: será que carregamos medos e traumas que nos foram “ensinados” sem que a gente perceba?