Ficar de pé em uma perna só: O que isso revela sobre o envelhecimento?

Uma pesquisa conduzida por cientistas da renomada Mayo Clinic, nos Estados Unidos, trouxe à tona uma descoberta curiosa: o tempo que uma pessoa consegue permanecer equilibrada em uma única perna pode indicar seu nível de envelhecimento neuromuscular. A ideia é simples, mas cheia de implicações.

O estudo, publicado na revista científica Plos One, analisou 40 indivíduos saudáveis com mais de 50 anos, divididos em dois grupos: o primeiro com pessoas entre 50 e 64 anos e o segundo com participantes a partir dos 65. Todos foram submetidos a uma série de testes que avaliavam equilíbrio, força muscular (mãos e joelhos) e marcha.

Os resultados mostraram que o equilíbrio foi a capacidade que mais apresentou declínio com o passar dos anos. O teste de permanecer em uma perna só revelou-se especialmente eficaz para medir esse aspecto tanto em homens quanto em mulheres.

De acordo com Kenton Kaufman, diretor do Laboratório de Análise de Movimento da Mayo Clinic e autor sênior do estudo, o teste é uma ferramenta prática e acessível para identificar problemas de equilíbrio, especialmente em idosos. “Se uma pessoa consegue se equilibrar por 30 segundos, isso indica que seu envelhecimento neuromuscular está dentro do esperado. Mas, se não consegue se manter na posição por ao menos 5 segundos, é um sinal de alerta para procurar um médico”, explicou Kaufman.

Aplicações e limitações do estudo

Para o geriatra Leonardo de Oliva, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), o teste é promissor, mas ainda há desafios a serem superados. Ele apontou que o número de participantes foi pequeno e o perfil homogêneo — pacientes saudáveis e atendidos por um hospital de referência, o que não reflete a diversidade da população idosa. Além disso, o estudo não acompanhou os participantes ao longo do tempo, como em pesquisas longitudinais, que são mais confiáveis para avaliar o envelhecimento.

“Embora o teste não mude as práticas clínicas atuais, ele abre portas para novas investigações sobre o equilíbrio no envelhecimento”, destacou Oliva.

Outras ferramentas para medir o envelhecimento saudável

O teste da Mayo Clinic não é o único método usado para avaliar o envelhecimento neuromuscular. Em 2001, a geriatra americana Linda Fried propôs cinco critérios para identificar a síndrome da fragilidade em idosos: perda de peso não intencional, exaustão, baixa atividade física, redução da força nas mãos e diminuição da velocidade ao caminhar. Esses critérios ajudam a prever riscos de quedas, internações e outros problemas de saúde.

No Brasil, outro teste bastante aplicado é o de Sentar-Levantar, no qual o idoso precisa levantar-se de uma cadeira cinco vezes em 15 segundos sem usar os braços. Esse método é útil para avaliar a robustez física e identificar pacientes que possam precisar de acompanhamento mais próximo.

Já na USP, o professor Renato de Moraes aplica o MiniBESTest, uma avaliação mais detalhada que dura cerca de 20 minutos e considera tanto o equilíbrio antecipatório — como ficar em um pé só — quanto o reativo, que analisa como o idoso reage a perturbações. Segundo Moraes, esses exames ajudam a identificar problemas específicos e direcionar intervenções.

No entanto, o professor faz uma ressalva: “É irreal esperar que uma única tarefa, como ficar em uma perna só, preveja com precisão o risco de quedas. O equilíbrio é multifatorial e depende de vários aspectos do organismo.”

Quedas no Brasil: Um problema crescente

No Brasil, as quedas estão entre as principais causas de morte por fatores externos na população idosa. Dados preocupantes mostram que, entre 2010 e 2022, o número de mortes por quedas em idosos aumentou 109%. Esse crescimento desproporcional está relacionado a fatores como sedentarismo, má alimentação e falta de acompanhamento médico.

“Estamos envelhecendo mal”, alerta Oliva. “Falta atividade física, uma dieta equilibrada e adaptações nos ambientes para tornar a locomoção mais segura.”

O professor Renato de Moraes complementa: “Com o aumento da população idosa no Brasil, precisamos urgentemente criar espaços mais acessíveis e seguros para que essas pessoas possam viver com qualidade.”

Um alerta para o futuro

Embora estudos como o da Mayo Clinic ainda sejam preliminares, eles destacam a importância de olhar para o equilíbrio como um indicador de saúde na velhice. Mais do que um exercício simples, ficar em uma perna só pode ser um convite para repensarmos nossas práticas de cuidado com os idosos. Afinal, a longevidade não deve ser apenas uma questão de tempo, mas também de qualidade de vida.