Esposa de Maurício Kubrusly revela que jornalista pensou em fazer eutanásia

Beatriz Goulart, esposa do jornalista Maurício Kubrusly, de 79 anos, revelou em entrevista que a luta do marido contra a demência frontotemporal tem transformado a rotina do casal e os levado a reflexões profundas sobre temas delicados, como a eutanásia. Com 63 anos, Beatriz compartilhou sua experiência à revista Veja, destacando os desafios de conviver com uma doença neurológica degenerativa e incurável que afeta não apenas a memória, mas também a comunicação e a autonomia.

Reflexões sobre a vida e a morte

Em um dos momentos mais impactantes da entrevista, Beatriz contou que Kubrusly chegou a considerar a possibilidade de eutanásia, inspirado pela decisão do escritor Antonio Cicero, que optou por encerrar a vida dessa forma em 2023. “Ele disse: ‘Não tenho mais o que fazer aqui’. Foi um momento muito difícil para mim. Eu o convenci a desistir da ideia. Não vou ficar viúva ainda, mas estou me preparando para o dia em que ele esquecer meu nome”, relatou ela, emocionada.

A demência frontotemporal é uma condição que afeta as partes do cérebro responsáveis pelo comportamento, pela personalidade e pela linguagem. Não há cura ou tratamento que reverta seus efeitos, o que torna o processo ainda mais desafiador para as famílias. Beatriz reconhece que a doença trouxe mudanças rápidas e profundas. “A morte é um assunto que está presente na nossa vida. Não há como evitar”, desabafou.

As primeiras mudanças: um leitor que perdeu a leitura

Beatriz descreveu como os primeiros sinais da doença começaram a aparecer. Maurício, conhecido por seu amor pela leitura, passou a não conseguir mais ler um simples jornal. “Ele sempre foi um leitor voraz, mas de repente isso se tornou impossível. Depois vieram os lapsos de memória e outros comportamentos que indicavam que algo estava errado. Ele parou de usar o celular porque começou a mandar mensagens e fotos para as pessoas erradas. Foi tudo muito rápido”, relatou.

Hoje, o jornalista também perdeu a capacidade de falar, algo que Beatriz sente como a perda mais significativa. “O que mais me dói é não poder mais compartilhar com ele suas descobertas sobre o mundo. É como se uma parte essencial do nosso relacionamento tivesse sido roubada”, lamentou.

Uma nova rotina no litoral da Bahia

O casal, que viveu por quase duas décadas em casas separadas, tomou uma decisão importante durante a pandemia. A pedido de Kubrusly, eles se mudaram juntos para o litoral sul da Bahia, onde passaram a enfrentar os desafios da doença em conjunto. Beatriz contou que a mudança foi motivada pelos primeiros sinais da condição, mas também representou um desejo de aproveitar ao máximo o tempo que ainda tinham juntos.

Apesar das dificuldades, ela reforça o compromisso de estar ao lado do marido em todas as etapas dessa jornada. “Morar juntos foi uma forma de respeitar o pedido dele e também de cuidar de quem sempre esteve ao meu lado. É difícil, mas é um ato de amor.”

Documentário no Globoplay: um tributo à trajetória de Kubrusly

A história de Maurício Kubrusly, marcada por sua carreira brilhante como jornalista e suas contribuições para a TV brasileira, é retratada no documentário Kubrusly: Mistério Sempre Há de Pintar por Aí, disponível no Globoplay. O filme celebra a trajetória de um profissional que marcou gerações com seu carisma e curiosidade pelo mundo.

Beatriz destacou que o documentário tem sido uma forma de relembrar a vitalidade e o entusiasmo que sempre definiram Kubrusly. “É uma homenagem à pessoa incrível que ele é e ao impacto que teve na vida de tantas pessoas. Mesmo agora, com todas as limitações, é importante lembrar quem ele sempre foi.”

Reflexões finais

A luta de Maurício Kubrusly contra a demência frontotemporal é um lembrete das complexidades do envelhecimento e dos desafios que muitas famílias enfrentam ao lidar com doenças degenerativas. A história compartilhada por Beatriz não é apenas uma reflexão sobre o impacto da doença, mas também sobre amor, resiliência e a necessidade de discutir temas sensíveis como qualidade de vida e o direito de decidir sobre o próprio destino.

Enquanto o tempo avança, Beatriz segue firme ao lado do marido, enfrentando um dia de cada vez e encontrando força nas lembranças do que construíram juntos. O relato dela é uma lição de empatia e coragem em meio a uma realidade difícil, mas profundamente humana.